Uma das ironias mais vertiginosas é aquela de se acostumar com o comportamento rude de alguém e se sentir mal enquanto o mesmo age ,em esporádicos momentos, de boa forma.

Na rotina tudo corre bem . As patadas se tornam parte de um sufocado viver e o sofrido começo é perdoado e canonificado na memória , quase beatos em lidar com tais seres.

Até que chegam as ocasiões em que tal pessoa se vê obrigada ( será?coisa que discutiremos mais tarde) a encarnar o bom humor e ser extremamente cordial. Não há tempo para tirar proveito , nem mesmo sarro do dito cujo devido à irritabilidade da consciência. Dá um 'num sei que' , as feições se enchem de nuvens pesadas , há um repentino desânimo e demônios nos enchem do vinho da ironia e das acusações que resolveram tomar voz. Todas inúteis , pois o sentimento da vingança não se encontra presente nas palavras ácidas , ditas com ódio , rapidamente.

Não é como gostar de sofrer.
É como se acomodar aos fatos.

Aí vem a duplicidade da pessoa : seria ela sempre feliz , mas as tempestades da rotina a enegrecem , e os raios de sol da fartura e dos bons momentos acabam mostrando ímpetos do seu verdadeiro ser.
Ou seria tudo farsa como previsto? Alguém ruim que , na compania de certos , ou vivendo numa certa mentira sebastianista , a qual torna aquele momento como redentor (não me refiro à sexo , acalme-se), começa a fazer que tudo vai bem.

Só sei que isso corrói.

Os bons momentos não saciam o mau-humor tão ausente no dia-a-dia.Todavia envolvem numa fantasia mal coordenada , com cenário decadente , atores baratos e mal pagos.
O espetáculo prossegue ao passo que a sede pela Realidade aumenta.
O sentimento de injustiça , "por que só é ruim comigo? por que ele é bom com todos?".
A busca cega e suja de pólvora pela justiça mirrada . Aquela imortal e derrotada que corre pelas trincheiras já vazias , que grita "Vejam , Vejam!" pra sempre , até que o coração perdoe de verdade.